No fascinante universo da fisiologia vegetal, existem moléculas que atuam como verdadeiros maestros, orquestrando processos vitais para a sobrevivência e o desenvolvimento das plantas. Entre essas substâncias notáveis, o ácido salicílico (AS) emerge como um protagonista silencioso, mas de impacto profundo. Frequentemente associado à sua versão sintética encontrada em analgésicos humanos, o ácido salicílico é, na verdade, um hormônio vegetal endógeno, produzido pelas próprias plantas, com funções cruciais que vão muito além do que imaginamos. Para a agricultura moderna, compreender e saber utilizar o potencial do AS representa um salto qualitativo no manejo, especialmente quando pensamos em estratégias sustentáveis para aumentar a produtividade e fortalecer as defesas naturais das culturas contra os desafios do ambiente.

(Fonte da Imagem: TerraMagna)
Este artigo mergulha no mundo do ácido salicílico, explorando seu papel fundamental na vida das plantas. Vamos desvendar como essa molécula atua como um sinalizador mestre na defesa contra patógenos e estresses, como ela influencia o crescimento e o desenvolvimento vegetal, e, crucialmente, como a sua aplicação, particularmente a foliar, pode se tornar uma ferramenta poderosa para agricultores que buscam otimizar suas lavouras, tornando-as mais resilientes e produtivas. Prepare-se para conhecer o guardião secreto que pode revolucionar a forma como cuidamos das nossas plantas.
O Que é o Ácido Salicílico e Como Ele Atua nas Plantas?
O ácido salicílico é classificado como um fenol simples e um fitohormônio, uma substância produzida internamente pelas plantas que, mesmo em baixas concentrações, regula uma vasta gama de processos fisiológicos. Sua presença é vital desde a germinação das sementes até a senescência das folhas, passando pela floração e desenvolvimento dos frutos. Contudo, seu papel mais celebrado e estudado reside na sua capacidade de mediar as respostas de defesa das plantas.
Quando uma planta enfrenta uma ameaça, seja o ataque de um inseto, a infecção por um fungo ou bactéria, ou mesmo condições ambientais adversas como seca, salinidade ou temperaturas extremas, a produção interna de ácido salicílico frequentemente aumenta. Ele atua como um sinalizador químico, disparando uma cascata de reações bioquímicas que preparam a planta para se defender. Esse mecanismo é conhecido como Resistência Sistêmica Adquirida (SAR), uma espécie de “sistema imunológico” vegetal que confere proteção não apenas no local da agressão inicial, mas em toda a planta.

(Fonte da Imagem: Biome4all)
Conforme detalhado por pesquisas como as citadas no portal Agrotécnico, o AS desencadeia a expressão de genes relacionados à defesa, levando à produção de proteínas específicas (proteínas PR – Pathogenesis-Related) e outras moléculas antimicrobianas, como as fitoalexinas. Além disso, ele influencia processos fundamentais como a fotossíntese, otimizando a produção de clorofila e a eficiência na captação de luz, e regula a transpiração através do controle da abertura e fechamento dos estômatos. Essa regulação estomática é crucial não só para a fotossíntese, mas também para a gestão hídrica da planta, especialmente sob estresse (Raskin, 1992; Metraux et al., 1990; Khan et al., 2003).
A Vantagem Estratégica da Aplicação Foliar
Embora as plantas produzam seu próprio ácido salicílico, a aplicação exógena, ou seja, fornecida externamente, tem se mostrado uma estratégia agrícola promissora para potencializar as defesas naturais e melhorar o desempenho das culturas. Dentre as formas de aplicação, a via foliar ganha destaque por sua praticidade e eficácia.
A aplicação foliar consiste em pulverizar uma solução contendo ácido salicílico diretamente sobre as folhas das plantas. Essa técnica permite uma absorção relativamente rápida do composto pelos tecidos foliares, onde ele pode atuar diretamente ou ser translocado para outras partes da planta, ativando os mecanismos de defesa e influenciando outros processos fisiológicos. Estudos como o de Trevisan et al. (2017) com morangueiros cultivados em substrato demonstraram os efeitos benéficos da aplicação foliar de AS. Nesse estudo, a aplicação quinzenal ou mensal de AS em diferentes concentrações resultou em alterações positivas, como o aumento no teor de clorofila nas folhas, um indicador direto da saúde e capacidade fotossintética da planta.

(Fonte da Imagem: Redalyc, Trevisan et al., 2017)
A facilidade de aplicação, o baixo custo relativo do ácido salicílico e seu alto rendimento (já que é aplicado em concentrações milimolares – mM) tornam a aplicação foliar uma alternativa atraente e viável para agricultores de diferentes escalas, desde a agricultura familiar até grandes produções (Andrade, 2015, citado por Trevisan et al., 2017).
Impulsionando a Produtividade e a Qualidade
Um dos resultados mais desejados na agricultura é, sem dúvida, o aumento da produtividade. O ácido salicílico contribui para esse objetivo por diversas vias. Ao fortalecer as defesas da planta contra doenças e estresses, ele permite que a planta direcione mais energia para o crescimento e a produção, em vez de gastá-la combatendo adversidades. A melhoria na eficiência fotossintética, estimulada pelo AS, também se traduz diretamente em maior acúmulo de biomassa e, consequentemente, maior produtividade.
Estudos científicos corroboram essa relação. Pesquisas mencionadas pelo Agrotécnico (Metraux et al., 1990; Khan et al., 2003) indicam que a aplicação de AS pode não só estimular o crescimento vegetativo e a floração, mas também resultar em aumentos significativos na produtividade final e na qualidade das colheitas. Gráficos de pesquisas, como os que demonstram o efeito de diferentes concentrações de AS na produção de frutos secos em pimenta jalapeño, ilustram visualmente esse potencial de incremento produtivo.

(Fonte da Imagem: SciELO México)
Além do aumento quantitativo, o AS pode influenciar positivamente a qualidade dos produtos agrícolas. No estudo com morangos (Trevisan et al., 2017), foram observadas alterações físico-químicas nas frutas, sugerindo um impacto na qualidade. Outros trabalhos, como o de Borsatti (2014) em acerola e Moreno et al. (2015) em amora, citados por Trevisan, indicam que o AS aplicado em pré ou pós-colheita pode retardar a maturação e a senescência, além de reduzir podridões, prolongando a vida útil e mantendo a qualidade dos frutos por mais tempo.
O Escudo Protetor Contra Estresses e Doenças
A capacidade do ácido salicílico de induzir a Resistência Sistêmica Adquirida (SAR) é talvez seu benefício mais notável no combate a estresses e doenças. A SAR funciona como uma “vacina” para a planta, preparando-a para responder de forma mais rápida e eficaz a futuros ataques de patógenos (fungos, bactérias, vírus) e a condições ambientais desfavoráveis (estresses abióticos).

(Fonte da Imagem: Intagri)
Quando o AS ativa a SAR, a planta mobiliza um arsenal de defesas. Isso inclui o fortalecimento físico das paredes celulares, tornando mais difícil a penetração de patógenos, e a produção de enzimas e compostos químicos que atacam diretamente os invasores ou inibem seu crescimento. Conforme apontado em fontes como Agrotécnico e Redalyc, a aplicação de AS pode aumentar a resistência a patógenos em até 45% e é eficaz contra uma ampla gama de estresses bióticos e abióticos.
No contexto de estresses abióticos, como a seca, o AS ajuda a planta a otimizar o uso da água através da regulação estomática e pode estimular a produção de antioxidantes, que combatem os danos celulares causados pelo estresse oxidativo. Em situações de salinidade no solo, o AS também demonstra potencial para mitigar os efeitos negativos sobre o crescimento vegetal. A capacidade de atuar como um elicitor, estimulando essas respostas de defesa de forma preventiva, faz do AS uma ferramenta valiosa no manejo integrado de pragas, doenças e estresses ambientais.

(Fonte da Imagem: Freepik)
Conclusão: Integrando o Ácido Salicílico na Agricultura do Futuro
O ácido salicílico revela-se muito mais do que um simples composto químico; ele é um maestro da fisiologia vegetal, um guardião essencial da saúde das plantas e um aliado estratégico para a agricultura. Sua capacidade de modular respostas de defesa, otimizar processos como a fotossíntese e regular o crescimento o posiciona como uma molécula chave para enfrentar os desafios da produção de alimentos em um cenário de mudanças climáticas e crescente demanda por práticas sustentáveis.
A aplicação foliar de ácido salicílico surge como uma técnica promissora e acessível para incorporar esses benefícios no manejo das culturas. Ao “despertar” os mecanismos naturais de defesa das plantas e melhorar sua eficiência fisiológica, o AS contribui para lavouras mais resilientes, menos dependentes de defensivos químicos tradicionais, mais produtivas e com produtos de melhor qualidade. Investir no conhecimento e na aplicação consciente do ácido salicílico é, sem dúvida, um passo importante em direção a uma agricultura mais eficiente, sustentável e preparada para o futuro.
GLION®: Tecnologia com Ácido Salicílico para uma Agricultura Sustentável e Eficiente
A busca por soluções sustentáveis, eficazes e biologicamente integradas na agricultura moderna encontra no GLION®, da Inocular, uma resposta promissora. Este fertilizante orgânico de Classe A reúne duas potentes ferramentas fisiológicas para as plantas: os aminoácidos levogiros de síntese enzimática e o ácido salicílico, em uma formulação estável, de alta biodisponibilidade e pH neutro, ideal para integração com insumos biológicos.
Ao fornecer ácido salicílico diretamente às plantas, o GLION® atua como ativador dos mecanismos naturais de defesa vegetal, otimizando funções fisiológicas como a fotossíntese, o metabolismo secundário e a resistência a estresses bióticos e abióticos. Além disso, a alta carga de aminoácidos assimiláveis potencializa a síntese de enzimas e proteínas essenciais ao desenvolvimento saudável das culturas.

Outros diferenciais, como a alta concentração de carbono orgânico biodisponível e a compatibilidade com microrganismos benéficos, fazem do GLION® um aliado ideal para sistemas de produção que valorizam a biologia do solo e o uso racional de insumos. Sua aplicação favorece a eficiência na absorção de nutrientes, especialmente quando associado a caldas de pulverização, reforçando sua atuação como bioestimulante natural.
Integrar GLION® ao manejo agrícola é apostar em uma agricultura que respeita os processos naturais das plantas, reduz a dependência de defensivos químicos e promove lavouras mais resilientes, produtivas e sustentáveis.
Referências
•Agrotécnico. (2024, 29 de janeiro). Ácido Salicílico: Funções e Aplicações. Recuperado de https://agrotecnico.com.br/acido-salicilico-funcoes-e-aplicacoes/
•Trevisan, F., Lima, C. S. M., Pinto, V. Z., Bonome, L. T. S., & Liz, K. M. de. (2017). Ácido Salicílico no desenvolvimento de plantas e nas caracteristicas físico-químicas de frutas de morango “Milsei-Tudla”. Revista Iberoamericana de Tecnología Postcosecha, 18(2), 106-114. Recuperado de https://www.redalyc.org/journal/813/81353563006/html/
•Khan, W., Prithiviraj, B., & Smith, D. L. (2003). Photosynthetic responses of corn and soybean to foliar application of salicylates. Journal of Plant Physiology, 160(5), 485-492.
•Metraux, J. P., Signer, H., Ryals, J., Ward, E., Wyss-Benz, M., Gaudin, J., … & Staskawicz, B. (1990). Increase in salicylic acid at the onset of systemic acquired resistance in cucumber. Science, 250(4983), 1004-1006.
•Raskin, I. (1992). Role of Salicylic Acid in Plants. Annual Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology, 43, 439-463.
•Imagem Broto Saudável: TerraMagna. Recuperado de https://terramagna.com.br/
•Imagem Infográfico Funções AS: Biome4all. Recuperado de https://biome4all.com.br/
•Imagem Gráfico Clorofila Morango: Redalyc / Trevisan et al. (2017). Recuperado de https://www.redalyc.org/
•Imagem Gráfico Produtividade Pimenta: SciELO México. Recuperado de https://www.scielo.org.mx/
•Imagem Mecanismo SAR: Intagri. Recuperado de https://www.intagri.com/